domingo, 1 de maio de 2016

AMERICANAH


Honestamente eu nunca pensei em ler Americanah. Quem já leu outros comentários por aqui sabe que eu procuro passar longe dos livros extremamente recomendados, aqueles que todo mundo lê e tem a mesma opinião. Geralmente me dou muito bem com os desconhecidos/esquecidos, os Knulps, Os homens de olhos dançantes, As indesejadas aposentadorias, apenas para citar alguns., deram-se melhor comigo do que os... Bonsais, as Desumanizações...

Americanah deveria ser lido para participar do primeiro encontro do Clube de Leitura Leia Mais Mulheres daqui, aí aproveitei e incluí no Desafio Skoob e o Leia Mais Mulheres. Ou seja não o li por opção.
Desde o começo a leitura não fluiu. Empacava frequentemente, levei mais de mês, como se costuma dizer por aí, para chegar aos míseros 30%. Inicialmente pensei tratar-se do suporte utilizado para a leitura, cheguei a brincar dizendo que era lenta e lerda com os ebooks. Mas pensando bem, o problema é a história. A história não me convence. Penso em C S Lewis de quem acabo de ler O sobrinho do mago. Pois então, a mentira que me contam tem que parecer verdade, eu consigo crer numa história em que absurdamente (?) um garoto e uma garota são transportados para um universo paralelo apenas colocando um anel no dedo (e isto no século XIX), mas não consigo entrar na história de uma nigeriana que se muda para os EUA, é mais ou menos por aí. A história da Chimamanda não me convence. Percebo que toca em pontos chaves acerca da vida do migrante africano, da mulher africana. Enquanto tese está ótima, mas não enquanto obra de ficção, não para mim.

Paradoxalmente este foi um livro de muitos e extensos grifos:
"Vejam bem, é muito difícil ser do governo neste país e não ser corrupto. Tudo é feito para você roubar. E o pior é que as pessoas querem que você roube. Seus parentes querem que você roube, seus amigos querem que você roube” (Isto não lhe parece familiar?)
A raça importa por causa do racismo. E o racismo é absurdo porque gira em torno da aparência 
Eu costumava ser assim com os livros. Secretamente sentia que meu gosto era superior
Algumas mulheres negras, tanto americanas como não americanas, preferem sair peladas na rua a aparecer em público com seu cabelo natural.
Lagos nunca foi, nunca será e nunca quis ser como Nova York ou qualquer outra cidade. Lagos sempre foi indiscutivelmente ela mesma.
No início, ficara empolgado com o Facebook, vendo os fantasmas dos velhos amigos subitamente ganhando vida com esposas, maridos e filhos, as fotos seguidas de comentários. Mas começou a ficar horrorizado com o ar de irrealidade, a manipulação cuidadosa de imagens para criar uma vida paralela, as fotos que as pessoas tiravam tendo o Facebook em mente, colocando ao fundo as coisas das quais sentiam orgulho. 
Título:  Americanah
Autor:  Chimamanda Ngozi Adichie
Editora:  Companhia das Letras
Pág: 516
Leitura: 20/12/2015 a 10/03/2016
Tema: Escritor africano 
Sinopse:  Lagos, anos 1990. Enquanto Ifemelu e Obinze vivem o idílio do primeiro amor, a Nigéria enfrenta tempos sombrios sob um governo militar. Em busca de alternativas às universidades nacionais, paralisadas por sucessivas greves, a jovem Ifemelu muda-se para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo que se destaca no meio acadêmico, ela se depara pela primeira vez com a questão racial e com as agruras da vida de imigrante, mulher e negra. Quinze anos mais tarde, Ifemelu é uma blogueira aclamada nos Estados Unidos, mas o tempo e o sucesso não atenuaram o apego à sua terra natal, tampouco anularam sua ligação com Obinze. Quando ela volta para a Nigéria, terá de encontrar seu lugar num país muito diferente do que deixou e na vida de seu companheiro de adolescência. Chimamanda Ngozi Adichie parte de uma história de amor para debater questões prementes e universais como imigração, preconceito racial e desigualdade de gênero.

O ESTRANGEIRO


Eu tenho  aqui na prateleira O mito de Sisifo, de Camus, creio que a pelo menos uma década. Comprado não sei como, não sei onde e também não sei porque. Você deve estar se perguntando o que isso tem a ver com o livro que acabo de ler. Eu diria que tem tudo, ou nada. Nunca fui uma leitora enquadrada, leio o que me apetece, quando me apetece. E aqui para nós Camus não estava em meus planos de leitura, se é que um dia já esteve.

A coisa toda começou quando no programa Direto & Literatura sobre corrupção citaram A queda, de Camus. Que já li. Mas, confesso que o texto de Ibsen me chamou mais a atenção do que o de Camus no que diz respeito a tratar de corrupção.

De novo foi um programa de televisão que me levou a ler esse outro livro de Camus. Dias atrás assisti um documentário sobre como seus livros impactaram a vida de alguns de seus muitos leitores ao redor do mundo. Do padeiro à jornalista, passando pelo professor e pelo carteiro, todos tinham uma história pra contar. E depois disso quem resiste? Eu não! E lá se vai eu à biblioteca atrás de O estrangeiro para descobrir o que afinal encanta tanta gente.

Camus tem uma escrita limpa, enxuta, sem excessos. O texto é no mínimo impactante. E nada me preparou para a história que acabei de ler. E creio que releituras devam ser tão impactantes quanto uma primeira leitura e penso que terá sempre um caráter inusitado.

Sem sombra de dúvida uma obra-prima, ainda assim não entrará para a minha galeria de favoritos e também não ficará com as cinco estrelas, pelo menos ainda não. Por que? Bem porque apesar de impressionar-me muito, não me encantou. Incomodou-me decerto, mas não consegue fazer o que faz o Entre quatro paredes, de Sartre por exemplo. Que incomoda e encanta, que sempre que acabo de ler já penso que uma nova releitura iria muito bem.

Docomuntário: Fanáticos por Camus
                       Viver com Camus

Grifos  
Eis a imagem deste processo Tudo é verdade e nada é verdade.
É sempre interessante ouvir falar de si mesmo. 


Título:  O estrangeiro
Autor:  Albert Camus
Editora:  Record
Pág: 122
Leitura: 13 a 16/01/2016
Tema: Escritor africano 
Sinopse:  Cinco décadas após sua morte, é indiscutível a atualidade do pensamento de Camus e de sua obra com foco na análise do homem contemporâneo. Traduzido para mais de 40 idiomas, O estrangeiro é hoje o recordista absoluto de vendas em formato de bolso na França. O romance faz parte do "ciclo do absurdo" do escritor e é seu livro mais conhecido. O narrador-personagem é o argelino Meursault, que mata um árabe por impulso. Meursault é o anti-herói que assassina um homem "por causa do sol" e sobe ao cadafalso afirmando que "fora feliz e que o era ainda". Publicado em 1942, este livro ganha repercussão com a visionária inquietação do autor. Suas obras são muito marcadas pela incerteza e pelo absurdo da existência.