Não sei se todo mundo deveria ler, ou se todo mundo iria gostar. Eu diria que é encantador, revelador, instigante. Mas, como tenho um gosto um tanto ou quanto às avessas, tenho certeza que meu comentário não vai ser levado a sério. (rs)
O livro me parece mais com um diário, o diário de um escritor já maduro (idade mesmo) e que nos apresenta suas reflexões sobre a arte da escrita, as reminiscências que compõem o seu dia a dia. Em muitos momentos me lembrou do Walden de Thoreau, em outros lembrou-me dos escritos de Mario de Andrade para Fernando Sabino, que me encantaram tanto e tão recentemente. Olhando, a ficha catalográfica vejo que a editora o classificou como contos, e eu diria que são memórias... mas ela é a editora, então!
Neste Felicidade descubro um pouco mais do Hesse, que seu escrito predileto foi o Peregrinação, e não o Sidarta ou O jogo das contas de vidro como eu poderia imaginar, e que nos conta:
É o papel em que um dia se imprimiu um de meus livros prediletos, Peregrinação. O que ainda resta desse livro foi destruído pelas bombas americanas, desde então ele não existe mais, anos a fio comprei a qualquer preço todo exemplar que aparecesse em algum antiquário, e vê-lo reeditado é hoje um dos poucos desejos que me restam.Que se identificava com André Gide
Naquele tempo, instigado pelo livro de Curtius, surgiu e firmou-se em mim o amor por aquele escritor sedutor que tratava seus problemas , tão semelhantes aos meus, de um modo bem diferente (...) Passei a ler tudo que conseguia obter dele, e com o tempo li quase todos os seus livros duas ou três vezes...e admirava o autor. E um dia recebe, para sua surpresa e alegria, uma cartinha deste mesmo Gide contando de sua admiração por ele e que o agradou muito particularmente
Depois de longo tempo quero lhe escrever. Essa ideia me atormenta: que um de nós possa deixar esta terra sem que o senhor saiba de minha profunda simpatia por cada um de seus livros que li. Entre todos, Demian e Knulp me fascinaram. Depois aquele delicioso e misterioso Viagem ao Oriente e por fim o Goldmund, que ainda não terminei - e que saboreio lentamente, temendo terminá-lo muito em breve. Os admiradores que o senhor tem na França (e eu recruto novos incessantemente) talvez ainda não sejam muito numerosos, mas tanto mais ardentes. Nenhum deles mais atento e devotado do que,
André Gide.Um livro encantador. E que eu talvez nunca lesse não houvesse guardado carinhosamente o comentário daquele amigo e não fosse a existência de bibliotecas, afinal o livro é esgotado.
Gosto particularmente de:
- Descrição de uma paisagem
- Horas na escrivaninha
- Lembranças de André Gide
- Velhice
Grifos:
Título: Felicidade
Autor: Hermann Hesse
Pág: 157
Editora: Record
Leitura: 12 a 18/07/2015
Sinopse: Um autor refletindo sobre o cotidiano e o ofício de escrever. Este é o Hermann Hesse de 'Felicidade'. Contista, poeta, ensaísta e editor de importantes obras da literatura alemã, Hermann Hesse mostra nas pequenas histórias deste livro - escritas entre 1947 e 1961 - sua casa, os pequenos cômodos, a paisagem de sua janela, as flores, sua gata, o armário com diferentes tipos de papéis que, mais do que insumo para suas obras, eram retratos de seu estado de espírito.
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